segunda-feira, 29 de março de 2010

E se um asteróide...

E se um asteróide fosse se chocar com a Terra, e não houvesse nada a fazer para evitar o nosso fim? Como nos comportaríamos?

Nos convenceríamos, finalmente, de que somos uma única espécia frágil num planeta precário e viveríamos nossos últimos anos em fraternidade e paz, ou reverteríamos ao nosso cerne básico e calhor, agora sem disfarce? Nos tribalizaríamos ainda mais ou descoriríamos nossa humianidade comum, e como eram ridículas as nossas diferenças? Jogaríamos nosso dinheiro fora ou cataríamos o dinheiro que os outros jogassem fora, pensando na remota possibilidade de comprar um lugar no último foguete americano e deixar a Terra antes do impacto? Perderíamos todo o interesse nos prazeres da carne e trataríamos de salvar nossa alma ou, pelo contrário, nos entregaríamos à lascivia, ao deboche e à gula, ultrapassando, às gargalhadas, todos os nossos limites orçamentários?

Como os cientistas nos diriam até o segundo exato do choque com o asteróide com alguns meses de atencedência, seríamos a primeira geração sobre a Terra a viver com a certeza universal e pré-medida do seu fim - e a última, claro. Muitas seitas através da história e até hoje estabeleceram a hora e o modo de o mundo acabar e se preparam para o evento. Nós seríamos os primeiros com evidência científica do fim, em vez de crença, o que nos levaria a tratar a ciência como hoje muitos tratam as crenças. Pois só a desmoralização total da ciência, só chamar o sistema métrico de ocultismo e termondinâmica de feitiçaria, nos daria a esperança de que os cálculos estivessem errados e o asteróide, afinal passaria longe.

Se existissem foguetes salvadores e bases na Lua e em Marte esperando os sobreviventes, estaríamos diante de outra situação "Titanic".
- Quem vai nos foguetes? (Nada de mulheres e ciranças - intelectuais primeiro!) Tem que ser americano? Quanto custaria uma terceira classe? Aceitam cartão?

Nós finalmente nos conheceríamos - e seria tarde.


Luis Fernando Veríssimo.

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Tô puto, como a muito não ficava. Um abraço.

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